Eventos Culturais

Projeto 365 • Exposição no SESC Pinheiros registra a passagem do tempo 
de 25 de março a 23 de maio

Colagens, desenhos, pinturas, recortes, inscrições e perfurações compõem um calendário especial criado pelas artistas Cássia Aresta, Helenita Peruzzo e Rosa Grizzo. Estes diferentes trabalhos farão parte do Projeto 365, exposição que abre dia 25 de março no SESC Pinheiros e segue até 23 de maio. A mostra é o resultado de um compromisso assumido pela tríade em executar uma obra por dia ao longo de um ano. Durante este período Cássia, Helenita e Rosa tiveram diferentes experiências artísticas que mudaram a concepção de tempo e colocaram em prática suas poéticas pessoais que possivelmente seriam esquecidas por outras questões do dia a dia.


Um conjunto de pequenas obras, todas em tamanho 10x10 cm, presente no espaço expositivo do 3º andar representam reflexões filosóficas do coletivo que ganham sentido ao relacionar três percursos distintos mostrados a partir de técnicas e materiais diferentes. Para as artistas “A fragmentação seqüencial destas miniaturas sugerem a reconfiguração de uma experiência longa enquanto data, mas única enquanto tempo interior ditado pelas necessidades de cada uma de nós”.

Cassia Aresta estabelece em suas criações a relação entre espaço-tempo, por meio de linguagens construtivas e estruturas geométricas. O conceito se encontra nas interações dos planos, das delimitações, das linhas, das cores e superfície. A cor, por vezes, é linguagem autônoma atuando como protagonista. O branco e o preto, quase sempre presentes, também são luz e sombra, são espaços, são conceitos.

Nas obras de Helenita Peruzzo há o registro de memórias da própria artista, de outras pessoas e locais diferentes do mundo. Em especial as pequenas memórias, aquelas que não produzem fatos históricos evidentes, mas que se misturam aos seres. Helenita experimentou diversos suportes e materiais em seu trabalho. Nele, há o uso de assemblagens induzidas por imagens, formatos e texturas de materiais banais que acabam conversando entre si.

A poética usada por Rosa Grizzo é o feminino, a mulher em busca da sua identidade. E, para expressá-la, ela usa materiais relacionados ao universo da manualidade doméstica e suas formas de execução. A partir de seus questionamentos e dessa procura por uma estética particular, passou a usar em seus trabalhos a própria silhueta, retirada de uma foto sua recortada. 

 “Durante essa experiência artística, o cotidiano nos trouxe outra concepção para o tempo pré-concebido por horas e calendários já estipulados. Não no sentido de subvertê-lo, mas de colocar em prática uma poética pessoal freqüentemente esquecida por questões outras. E assim que tocada pela primeira obra, tal poética passou a engendrar um paralelo em nossa dimensão existencial”, afirmam as artistas.







Paisagem e Ecologia Sonora

O conceito de paisagens sonoras e ecologia sonora surgiram no final dos anos 60 com pesquisadores da Simon Fraser University no Canadá. Liderados por Murray Schafer, este grupo de pesquisa formou o World Soudscape Project (WSP) com a finalidade inicial de estudar o meio ambiente sonoro. Mas a filosofia de estar atento ao som natural de ambientes já encontrava adeptos entre alguns músicos do século 20 e está presente na obra de vários compositores contemporâneos.
   Na década de 50, John Cage, o "filósofo da música" já provocava os ouvintes a escutar os silêncio nas composições e sentir os ruídos espontâneos nos ambientes. Cage utilizava o acaso como parte de suas composições, sem determinar previamente as suas obras e dizia que "a música são os sons a nossa volta", ampliando as concepções e as possibilidades da música. A partir desta época, começaram a surgir criações com intervencionismo na rua e obras de compositores influenciados pela polifonia urbana e os sons da cidade.
   No final dos anos 60, Murray Shafer escreveu o livro "O Ouvido Pensante", onde aponta que todos os sons fazem parte das possibilidades de abrangência da música, propondo uma "escuta pensante" para tornar os ambientes sonoros menos poluídos e mais agradáveis. Segundo Shafer, o primeiro passo para ser um ouvinte "ecologicamente correto" é "aprender a ouvir a paisagem sonora como uma composição musical".
   O termo "soundscape" foi criado por Schafer adaptando a palavra "landscape" (paisagens) para um sentido relacionado ao som. No Brasil, a tradução de "soundscape" para "paisagens sonoras" foi feita na versão em português do livro "O Ouvido Pensante", publicado em 1997. Já o termo "ecologia sonora" ou "ecologia acústica" se refere a ciência que estuda os efeitos do ambiente acústico e das paisagens sonoras, com as conseqüências físicas e comportamentais nos seres vivos
   Este ideal de aguçar os sentidos da audição para a percepção de sons, que na maioria das vezes passam despercebidos é à base dos conceitos de ecologia e paisagens sonoras. As pessoas estão rodeadas de várias freqüências sônicas, mergulhadas em um mar de sons, seja nas cidades (com os ruídos de pessoas conversando, carros, aparelhos eletrônicos e etc.) ou no campo (com os sons da natureza, como por exemplo, o canto dos pássaros, vento e água).
   A poluição sonora das grandes cidades com ruídos em alto volume, apesar de fazer parte da paisagem sonora, impede que as pessoas ouçam as freqüências mais baixas e se torna uma grande inimiga da percepção auditiva por saturar os ouvidos. A poluição sonora da sociedade urbana e industrial muitas vezes "esconde" os sons mais sensíveis dos ambientes.
   Este incentivo a percepção dos sons ambientes desencadeou o processo criativo de compositores com as obras chamadas de paisagem sonoras. "São composições que não tem um sentido de música, estão mais para paisagens", diz o coordenador do Nics Jônatas Manzolli. Para exemplificar este tipo de som, ele cita os sons produzidos pela Ada, o computador que interage com as pessoas na Expo. 02 na Suíça. Outro exemplo de paisagem sonora entre os projetos do Nics é os sons produzidos pelo Roboser, um robô compositor.
   Ao encarar a recepção do som como uma experiência sensorial e que cada som tem um significado, uma identificação que remete as sensações guardadas no inconsciente, mudou-se o paradigma da criação musical. Este conceito de paisagens é diferente do processo da música composta nota por nota, para expressar um sentimento do compositor. A paisagem sonora existe no ambiente e pode ser manipulada e modificada.






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